A ESET alerta para a escalada do ciberbullying e apresenta dez mitos que dificultam a prevenção e a resposta de famílias e escolas. Dados do Cyberbullying Research Center revelam que mais de 58% dos alunos do ensino básico e secundário nos EUA já sofreram algum tipo de assédio online nas suas vidas. Em comparação, em 2019, esse número era de 37% e, uma década antes, apenas um quarto (24%). Outros dados afirmam que quase metade (43%) dos adolescentes que jogam videojogos já foram vítimas de ciberbullying. Alguns foram chamados de nomes ofensivos. Outros foram ameaçados fisicamente, enquanto muitos receberam conteúdo sexualmente explícito.
Em Portugal, o fenómeno regista igualmente um ritmo de crescimento alarmante. Um recente relatório do Relatório do Grupo de Trabalho de Combate ao Bullying nas Escolas, formado pelo Centro Internet Segura (CIS), aponta para a existência de um fenómeno de vitimização preocupante nas escolas portuguesas, com uma prevalência superior à de outros países europeus.
Os pais estão corretamente preocupados com essas tendências. Contudo, como muitos fenómenos online, meias verdades, mitos e equívocos podem distorcer a realidade do ciberbullying e dificultar a tomada de decisões dos pais. A ESET decidiu desconstruir os dez mitos mais comuns associados ao ciberbullying.
- O que acontece online permanece online
Como muitas tendências online, o bullying é facilitado pela tecnologia, mas tem as suas raízes profundas na psique humana. Há muitas razões pelas quais as crianças se podem envolver em comportamentos de bullying, desde pressão dos colegas até baixa autoestima, busca por atenção e abuso doméstico. As plataformas digitais, como as redes sociais, podem permitir que elas intimidem outras pessoas de forma mais generalizada. Mas isso não se limita à esfera online. Os agressores podem querer atormentar as suas vítimas tanto na vida real quanto online. E mesmo que não o façam, os danos psicológicos que podem causar certamente têm um impacto no mundo real sobre as suas vítimas. - São apenas crianças a serem crianças
Descartar o bullying como algo que as crianças fazem como parte normal do crescimento ameaça minimizar a sua potencial gravidade. Na verdade, pode ter um impacto sério a longo prazo no desenvolvimento social e emocional do indivíduo que está a ser vítima de bullying. Também é verdade que o ciberbullying não é algo que acontece apenas com crianças. Trolling, doxing, revenge porn e stalking são formas de ciberbullying familiares para a maioria de nós. - Ignore e isso vai passar
Isto raramente funciona. Pela mesma lógica, é um erro pensar que denunciar o comportamento de ciberbullying só vai piorar a situação. Na verdade, às vezes, tentar ignorar pode encorajar o agressor, se ele acreditar que as suas ações estão a surtir efeito. Só tomando medidas conjuntas e enfrentando o agressor diretamente é que há esperança de resolver a situação. - O meu filho vai contar-me se algo estiver errado
As crianças passam por várias fases distintas enquanto crescem, mudando a sua relação psicológica e emocional com os pais ao longo do processo. Especialmente quando entram na adolescência, elas podem ficar com vergonha de contar que algo está errado ou sentir-se humilhadas. Elas podem não compreender a gravidade do que lhes está a acontecer. Ou podem ficar preocupadas que as castiguem ou tirem os seus dispositivos se disserem alguma coisa. Tranquilizá-las de que está lá para apoiá-las, e não para julgá-las ou puni-las, é uma das melhores coisas que pode fazer para as ajudar. - Remova a tecnologia e resolverá o problema
O ciberbullying é possibilitado pela tecnologia, mas certamente não desaparece milagrosamente se confiscar o smartphone do seu filho. Se ele estiver a ser vítima de bullying na escola, haverá muitas oportunidades para que o assédio continue offline. Punir o seu filho removendo o seu dispositivo irá agradar ao agressor e não ajudará em nada o relacionamento com os seus filhos. - É quase impossível identificar os agressores online
Às vezes, o anonimato online realmente dá poder aos agressores, assim como permite que o cibercrime prospere. Mas a realidade é que a maioria dos agressores conhece as suas vítimas, sejam elas colegas de escola, ex-amigos ou parceiros românticos. Também é verdade que as redes sociais e outras plataformas são capazes de desmascarar certos utilizadores se for comprovado que eles violaram os termos de serviço por meio de assédio ou agressão. - O ciberbullying é fácil de identificar
O desafio do ciberbullying é que ele ocorre virtualmente. Não deixa cicatrizes físicas, mas pode certamente causar danos mentais às vítimas. Isso dificulta as coisas para os pais, especialmente se acharem complicado conversar abertamente com os seus filhos sobre sentimentos. Não pode confiar que o seu filho lhe dirá que algo está errado. Portanto, é preciso melhorar a sua capacidade de identificar os sinais de alerta. Mudanças repentinas no comportamento, atitude ou desempenho académico podem ser um indicador útil. Mas não são uma certeza. Também pode ser necessário fazer perguntas delicadas. - Os agressores são pessoas más e marginalizadas
Quando os agressores são finalmente desmascarados, a verdade sobre a sua identidade pode muitas vezes chocar amigos e familiares. As pessoas podem dizer e fazer coisas online que nunca sequer considerariam no mundo real. A maioria dos agressores age assim porque eles próprios foram vítimas de bullying ou abuso, porque têm baixa autoestima ou problemas de saúde mental, ou devido à pressão dos colegas. É fácil retratá-los como o diabo, especialmente se estiverem a causar danos aos seus filhos. Mas a verdade é geralmente mais complicada do que isso. - O ciberbullying causa um grande número de suicídios
Dados oficiais dos EUA indicam que 14,9% dos adolescentes já foram vítimas de ciberbullying e 13,6% dos adolescentes já tentaram suicídio de forma grave. Mas correlação não implica causalidade. Na verdade, há muitas razões pelas quais um jovem pode desejar acabar com a sua vida, e o ciberbullying pode ou não ser uma dessas razões. De qualquer forma, devemos estar atentos aos perigos que o assédio online persistente representa para os membros mais vulneráveis da sociedade. - As plataformas de redes sociais são as culpadas
As redes sociais e as plataformas de mensagens são frequentemente demonizadas pelo papel que desempenham como facilitadoras do ciberbullying. Mas, cada vez mais, estão a ser obrigadas pelos legisladores a policiar melhor os seus ecossistemas. A Lei de Segurança Online do Reino Unido, por exemplo, é uma das leis mais rigorosas do mundo, impondo um “dever de cuidado” a certos prestadores de serviços online para garantir o bem-estar dos seus utilizadores. O bullying nem sempre é fácil de identificar. O contexto, as nuances, a gíria e as idiossincrasias linguísticas são, por vezes, difíceis de detetar com precisão pelos algoritmos. Mas estão a melhorar nesse aspeto, como devem. De qualquer forma, é importante que os pais conversem com os seus filhos sobre os riscos e as armadilhas das redes sociais.
Como podemos atuar
“Grande parte do ciberbullying começa numa navegação online inconsciente, na exposição excessiva de dados pessoais e no contacto com ataques de engenharia social”, explica Ricardo Neves, Responsável de Marketing da ESET Portugal. “É fundamental proteger e capacitar os mais jovens, ajudando-os a reconhecer riscos, limitar o acesso a conteúdos nocivos e reduzir a partilha indevida de informação”.
Lembra ainda que “a tecnologia, quando usada de forma equilibrada e criteriosa, pode ser uma aliada essencial na mitigação dos riscos. Ferramentas como o controlo parental, a definição de limites de tempo e horários, bem como a proteção da webcam e a monitorização do microfone nos dispositivos, contribuem para reforçar a segurança e a privacidade. Também a monitorização de violações de dados ajuda a detetar precocemente potenciais exposições em espaços digitais obscuros que muitos casos estão associados ao ciberbullying”.
A par da tecnologia, importa investir na educação e sensibilização. Iniciativas internacionais como o programa Safer Kids Online, promovido pela ESET, disponibilizam guias, vídeos e materiais que apoiam famílias e escolas neste desafio.
Nenhum pai ou mãe quer que o seu filho seja vítima de ciberbullying. Mas se a alternativa for isolá-lo do mundo digital, isso pode fazer mais mal do que bem. O segredo é ficar atento a quaisquer sinais de alerta, manter um diálogo aberto e oferecer apoio emocional (e técnico). Elabore um plano e resolva o problema em equipa.
Mais informações: https://www.welivesecurity.com/en/kids-online/what-happens-online-stays-online-and-other-cyberbullying-myths-debunked/